04/12/2015

O Livro A Mulher que venceu Don Juan é de leitura obrigatória



A Mulher que venceu Don Juan, Teresa Martins Marques  
O Livro A Mulher que venceu Don Juan é de leitura obrigatória para a 10ª edição do Concurso Nacional de Leitura 2015/2016.

22/10/2015

DON JUAN AUX ENFERS - Charles BAUDELAIRE (1821-1867)


DON JUAN AUX ENFERS
Quand Don Juan descendit vers l'onde souterraine
Et lorsqu'il eut donné son obole à Charon,
Un sombre mendiant, l'oeil fier comme Antisthène,
D'un bras vengeur et fort saisit chaque aviron.
Montrant leurs seins pendants et leurs robes ouvertes,
Des femmes se tordaient sous le noir firmament,
Et, comme un grand troupeau de victimes offertes,
Derrière lui traînaient un long mugissement.
Sganarelle en riant lui réclamait ses gages,
Tandis que Don Luis avec un doigt tremblant
Montrait à tous les morts errant sur les rivages
Le fils audacieux qui railla son front blanc.
Frissonnant sous son deuil, la chaste et maigre Elvire,
Près de l'époux perfide et qui fut son amant,
Semblait lui réclamer un suprême sourire
Où brillât la douceur de son premier serment.
Tout droit dans son armure, un grand homme de pierre
Se tenait à la barre et coupait le flot noir,
Mais le calme héros, courbé sur sa rapière,
Regardait le sillage et ne daignait rien voir.
Charles BAUDELAIRE (1821-1867)
Les Fleurs du Mal, XV

06/08/2015

"A Mulher que Venceu Don Juan" no Plano Nacional de Leitura para o Ensino Secundário

"A Mulher que Venceu Don Juan", de Teresa Martins Marques, está na lista de livros recomendados pelo Plano Nacional de Leitura para o Ensino Secundário! Esta é uma obra de ficção que aborda temas muito pertinentes da vida actual, de que se destaca a violência nas relações. A prevenção é o melhor remédio, por isso, num país em que se estima que uma em cada três mulheres tenha sido ou seja vítima de violência doméstica, é urgente alertar os nossos jovens.

http://www.planonacionaldeleitura.gov.pt/escolas/uploads/livros/58_todas_as_listas_2014%283%29.pdf

05/08/2015

María José Rodríguez Figueíras e a A Mulher que Venceu Don Juan

A Mulher que Venceu Don Juan chegou às minhas mãos num sábado às 10 h da manhã, quando o abri pela primeira vez, e terminei as 326 páginas às 10 e meia da noite (tinha conhecimento de que havia sido publicado numa rede social e dado o seu êxito, a autora havia decidido convertê-lo num livro dando-lhe forma e desenvolvendo a trama).
Sinceramente esta história cativou-me, pela sensibilidade da autora, que soube tratar maravilhosamente um problema que afecta muitas mulheres e homens que na intimidade sofrem de violência doméstica, e de que até há pouco tempo nem se mencionava. Ou se pedia ajuda à família, respondiam que era o seu marido, disso não se fala, alguma coisa fizeste para merecer isso, etc. O tema é tão grave que se reclamou das Nações Unidas para que preste mais atenção a estes abusos no âmbito privado já que causam mais mortes que as guerras, e que custam segundo os especialistas mais de 6 191 milhões de euros por ano.
Desgraçadamente em Espanha já levamos 40 mortes nestes 11 meses, mulheres que são maltratadas física e psicologicamente (também há homens, detalhe que não quero esquecer.), nem tão pouco a essas mulheres que silenciosamente e por vergonha as sofrem no silencio das suas casas, e que seguramente entre as presentes haverá mais do que uma.
Este livro é especial por vários motivos, primeiro por retratar a violência num caso que ocorre numa classe social alta, quando estamos habituados a que cheguem aos nossos ouvidos casos como estes de famílias desestruturadas, e este tipo de comportamentos não tem classes, ocorre em todos os extractos da sociedade.
E segundo, por fazer um detalhe pormenorizado e detalhado do papel de D. Juan, com referências a textos da literatura espanhola, francesa, dinamarquesa, Kierkegaard, por exemplo… Senão porque paralelamente, a escritora Maria Teresa Martins Marques dá uma explicação teórica do comportamento destes sociopatas, da parte da responsabilidade que têm os pais, de educar os filhos colocando-os no centro da atenção dos seus progenitores, convertendo-os em absolutos egocêntricos que simplesmente não sabem dar nem conhecem o significado da palavra amar, assim como o mal que causam à sua volta, até em mulheres e homens com capacidade intelectual elevada que são subjugados emocionalmente devido à sua baixa auto-estima.
A autora faz deste trabalho algo vivo que cativa, onde se mistura a realidade mais absoluta, o sofrimento com a ironia e o sentido de humor que prende e não deixa abandoná-lo, na expectativa de conhecer na página seguinte o que acontece à protagonista, Sara, que teve a desgraça de se cruzar na sua vida com um depradador emocional? Um Don Juan, que abundam na nossa sociedade sobretudo em profissões liberais, médicos, políticos, advogados, etc. Uma trama de diferentes personagens implicadas entre si sem conhecer o motivo e que na trama final descobrem-se as suas entrelaçadas implicações. 
Recomendo encarecidamente a leitura deste grande livro, A Mulher que Venceu Don Juan, que estou convencida que não só será um êxito para a sua autora, Maria Teresa Martins Marques, senão também para a Âncora Editora, que teve a sensibilidade de dar-se conta do valor que estas páginas encerram.

María José Rodríguez Figueíras

20/06/2015

Vítor Matos e "A Mulher que Venceu Don Juan"


Tive o gosto de conhecer a autora numa viagem de trabalho e após a nossa primeira conversa achei que era uma pessoa com o dom da palavra, logo imaginei que a sua escrita seria interessantíssima.
 Com a minha colaboração no blogue comecei a ler os comentários e claro  decidi ler o romance.
Qual o meu espanto ao sentir me com vontade de “devorar” página atrás de página. O envolvimento das personagens e o decorrer da história é alternado com muito conhecimento literário e assuntos para mim desconhecidos, motivo pelo qual fico ainda mais agradado por ter absorvido todo este conhecimento e ter ficado com vontade de aprofundar várias temáticas abordadas.
Em suma, foi um livro que além de conter uma história extraordinária, bem construída e desenvolvida, com um final com o qual eu já contava, mas que nem por segundos imaginei que o desfecho fosse feito por parte de quem o fez...
Espero ainda que muitas “Saras” leiam este romance e se libertem dos seus “Amaros” pois não precisamos de tais histórias, infelizmente reais, na nossa sociedade.
Foi um livro que me despertou ainda mais para o mundo literário e me abriu a mente para um novo projecto que me breve revelarei, pelo que só tenho de agradecer à autora por tal feito.

Um beijo,
Vítor

Vítor Matos, técnico de informática, formador e fotógrafo, é colaborador do blogue Farrapos de Memória (de Leonel Brito), tem vários trabalhos fotográficos publicados em jornais regionais, participou como fotógrafo nos documentários: "Ernesto Rodrigues - 40 anos de Vida Literária", "Freixo de Espada à Cinta - à vista de pássaro", Arquivo de Memória Oral das Minas da Borralha, Arquivo de Memória Oral de Freixo de Espada à Cinta e no filme "Do Roboredo ao Sabor", de Leonel Brito. Participou na exposição fotográfica intitulada "Alentejo", realizada em Elvas em Maio de 2015.

Giorgio de Marchis e "A mulher que venceu Don Juan"

Cara Teresa,
Acabo de ler A mulher que venceu Don Juan. Devido aos mil afazares no Departamento., demorei um pouco mais do que esperava para começar a leitura. Mas uma vez começada a leitura do romance, li sem parar e devorei o livro em poucos dias. O seu romance tem vigor, ritmo, mistério, denúncia social e encara questões sérias com seriedade, oferecendo ao leitor pérolas de humor e sabedoria (eu aprendi muito sobre muitas coisas que desconhecia em Portugal). Enfim, o seu romance é mesmo seu porque há nele tudo o que eu aprecio na sua autora.
Além disso, foi um prazer ver tantos amigos e conhecidos transformados em personagens romanescas. O seu, o nosso!, Prof. Ernesto Rodrigues aparece várias vezes e é sempre um gosto deparar-se nele, tanto na vida real como num romance.
Agora, esse doutor Amaro acho que entra de direito entre os malvados da literatura portuguesa. Aliás, o seu romance poderia chamar-se também Os Crimes do Doutor Amaro e acho que o Eça não ficava ofendido com isso.
Agora, aguardo o seguinte romance e, por enquanto, mando-lhe desde Roma o meu “grazie” pelas horas de deleitosa leitura que me ofereceu.
Um abraço amigo do seu leitor,
Giorgio 


Giorgio de Marchis é professor associado de Literatura portuguesa e brasileira na Universidade de Roma III. No âmbito das suas investigações, tem estudado o primeiro e o segundo Modernismo português, organizando edições crítico-genéticas de obras de Mário de Sá-Carneiro (O silêncio do dândi e a morte da esfinge. Edição crítico-genética de «Dispersão», Lisboa, Imprensa Nacional – Casa da Moeda, 2007) e de José Régio. Além de se interessar pelo romance português e brasileiro dos séculos XIX e XX, nos últimos anos tem estudado vários aspectos da literatura popular em Portugal (E… Quem é o autor desse crime? Il romanzo d’appendice in Portogallo dall’Ultimatum alla Repubblica (1890-1910), Milano, LED, 2009).

01/02/2015

"A Mulher que Venceu Don Juan," traduzido para húngaro, por Hargitai Evelin Gabriella

A nő, aki legyőzte Don Juan-t
1
La donna è mobile

Honvágyat csak a tenger iránt érzek. A Foz -nál elém táruló látvány hiányzik. Bár azt mondják, az Atlanti-óceán mindenütt egyforma, ezt, amit itt, Monte da Caparica -nál látok az ablakomból, nem érzem sajátomnak. Foz más volt.
Evelin Gabriella HARGITAI
Foz más volt; az új házból szemlélve, ahol az utolsó évben az életemet a boltról boltra rohanás töltötte ki: megkeresni a tökéletes műtárgyat a tökéletes helyre. Bármennyit is szaladtam, bármennyit is fáradtam vele, soha nem találtam olyat, ami elnyerte volna Amaro tetszését. Szép volt, csakhogy... Ő ellenben tudott választani. Vagy azt gondolta, hogy tud. Soha semmi nem volt tökéletes, az ő precíz kezei alól kikerülő plasztikai sebészi munka kivételével.
Mindig is a részletek okoztak nekem örömet, talán így menekülök el a lényeg elől, ami igazából felzaklat engem. Mindig szükségem volt arra, hogy valamivel eltereljem a figyelmemet, mert attól megkönnyebbülök. Most a balkonnövényeimre gondolok, amelyek kiszáradtak, elfonnyadtak, mert már nem beszélgetek velük. Hiányzik a veranda. Ellenben a tágas ház, ahol szinte elvesztem, nem. Fehér volt és steril. Meg kell halni, olyan szép, ahogyan Becas mondta, meghalni, mondtam én, lassú halállal, ha nincs remény új életet kezdeni. Persze, nem érthetett engem. Én pedig nem tudtam megértetni magam.
A foz-i új házzal kapcsolatban az én véleményem nem számított. Az én létem is olyan volt, akár egy műtárgyé. Szótlanul, díszként szolgáltam Amaro életében. Nem tudom, mire voltam jó, hacsak nem arra, hogy aláírjak.
– Holnap 11 órára legyen készen. El kell menni a közjegyzőhöz, aláírni az új lakás papírjait.
Homályosan már beszélt valamit egy épületről a Gomes da Costa Marsall sugárúton, ami, noha egy időre felfüggesztették az építkezést, végül elkészült. Az én családi örökségemből vette meg, de még csak nem is hívott el magával a bemutató szint bejárására. Kész tények elé állított. Erről nem beszélhetek senkinek. Ha beszélnék, senki nem hinne nekem. Vagy még nagyobb bolondnak néznének, mint amilyen egyébként voltam. Ezért írom inkább ezt a Naplót, ami nem kérdez, és nem bírál felül. Elég a cenzúra, amit magammal szemben alkalmazok, mert ma már tudom, hogy az én hibám is volt, nagyon is, mert gyenge voltam. Vakká tett a szerelem.
Honnan is tudhattam volna én, a tizenhat éves kamasz, hogy ez az Adonisz, aki filmbe illő módon toppant elém a granja-i parton, egyszer démonná fog változni. Pedig nyilvánvaló volt. Egy túlzottan jólnevelt, túlzottan hidegfejű, túlzottan visszafogott férfi, túlzottan sok kezitcsókolommal, nem megbízható. A normális emberek nem túlságosan ilyenek vagy olyanok. A túlzott tökéletesség még Odüsszeusznak sem kellett, ott is hagyta sírva Kalüpszót Ogügié szigetén. Pénelopé türelmes volt, ezzel jobban szolgálta az érdekeit. Az én odüsszeiám más fonalból, más szemekből szövődött, amiben sem istenek, se hősök nem őrködtek felettem.

Teresa Martins Marques e Ernesto Rodrigues entrevistados pela Rádio Brigantia

Ernesto Rodrigues. Teresa Martins Marques e José Eduardo Franco,
nas comemorações dos 40 anos de vida literária de Ernesto Rodrigues


23/01/2015

A MULHER QUE VENCEU DON JUAN: UM MODO CATIVANTE DE "CONTAR" ,por Urbano Bettencourt

.A MULHER QUE VENCEU DON JUAN: UM MODO CATIVANTE DE "CONTAR"
Teresa,
Tenho-a visto aqui pelo FB e sempre que a vejo lembro-me que nunca lhe disse nada sobre o seu livro, que li e de que gostei muito, pelas questões suscitadas, pela história e pelo modo «cativante» de a contar (isto é, prendendo a atenção do leitor). É por isso tudo um livro duro, não piegas nem demagógico.
São apenas algumas observações que me surgem agora, já à distância da leitura que fiz e de que lhe devia ter dado conta, com mais pormenor, na altura apropriada, mas que «as minhas circunstâncias» me impediram de fazer.

Urbano Bettencourt
Professor de literatura, licenciado em Filologia Românica e doutorado em Estudos Portugueses. Tem centrado a sua investigação no estudo de  literaturas insulares,especialmente a açoriana e a cabo-verdiana; uma parte dessa investigação encontra-sereunida em quatro volumes de ensaios:  O Gosto das Palavras (3 vols: 1983,1995; 1999) e Ilhas conforme as circunstâncias (2003). Tem ainda publicada outra obra no domínio da narrativa e da lírica. 

03/01/2015

Casa Vermelha - «Pintura Manual. E. Canavarro e João F. Blane. Obra de Henrique Cardoso»

Seguiram a pé até à Rua Joaquim Bonifácio e pararam junto de um prédio vermelho, quase centenário, com varandins de pedra lioz e gradeamento verde-escuro. Na fachada, à direita da porta, um azulejo  com a data de construção − 1924. A vendedora abriu a pesada porta de ferro verde-escura. A entrada era espaçosa, com plantas ornamentais. Mas o que de imediato lhes chamou a atenção foi a inscrição num azulejo: «Pintura Manual. E. Canavarro e João F. Blane. Obra de Henrique Cardoso». A vendedora não perdeu a oportunidade de dizer que a escada do prédio fora recentemente  decorada e que os proprietários não tinham poupado esforços para preservar aquele prédio tradicional. 
– De facto – disse Sara − que olhava para os murais de azulejos representando o Palácio das Necessidades, a Sé e a Basílica da Estrela. Subiam devagar a escada encerada, de corrimão azul e branco a condizer com as portas antigas da mesma cor, e ficaram admirados com a exposição de quadros nas paredes, com motivos lisboetas, alternando com documentos encaixilhados relativos ao prédio: a biografia de Joaquim Bonifácio, que deu nome à rua, alvarás, licenças de construção, de habitação, escrituras do primitivo proprietário, intimações camarárias para manutenção, numa palavra, toda a história do edifício. No primeiro andar, o painel mostrava o Terreiro do Paço, no segundo, o Teatro Dona Maria, no terceiro, o Palácio de São Bento, no quarto, o Mosteiro dos Jerónimos, no quinto, a Praça de Touros do Campo Pequeno, a Ponte 25 de Abril, e, por último, o Aqueduto das Águas Livres. Era uma visita completa aos lugares canónicos da cidade.
Já no quinto andar, Sara reparou numa moldura que contava a história da quase morte do prédio – a tragédia ali ocorrida no dia 18 de Dezembro de 1987. O quadro relatava que de cima para baixo as varandas tinham começado a desabar e com elas arrastaram as cozinhas e as casas de jantar das traseiras. Tinha sido um verdadeiro pandemónio, relatado com todos os pormenores no Correio da Manhã.
– Quem vê o prédio, agora, não pode imaginar o passado.
– Pois não – remata Luís − e a vendedora concorda.
 A história deste prédio antigo duplicava a sua vida. Da derrocada  surgira uma nova estética. Dos escombros do passado reconstruía-se uma nova Sara.
Quando a vendedora lhes mostrou o apartamento do terceiro andar esquerdo já ela tinha decidido que gostaria de morar ali, mesmo que fosse apenas por pouco tempo, não sabendo ainda que rumo viria a ter a sua vida futura. O corredor comprido acabava na cozinha e depois numa varanda que dava para uma escada de ferro em caracol. Os quartos sucediam-se, como se a casa fosse um comboio e a ideia de viagem, de percurso com saída de emergência, fê-la identificar-se com o lugar. Em frente, um Templo Adventista. Na varanda, dois pombos debicavam migalhas. O sol de Julho entrava a jorros pelas janelas.
– O que acha, Luís?
– Deve estar-se bem aqui a ler ao fim da tarde – foi a resposta, com um sorriso.
– Ficamos com ela – e Luís sorriu, agradado deste plural.

In: "A Mulher que Venceu Don Juan" de Teresa Martins Marques