Cecília Barreira-CHAM-FCSH/NOVA-UAç |
Teresa Martins Marques é ensaísta e escritora com obras de
reconhecido mérito e trabalhos notáveis sobre Rodrigues Miguéis ou David
Mourão-Ferreira. Investigadora no Clepul na Faculdade de Letras de Lisboa
escreveu um romance axial que põe em causa muitos assuntos controversos: trata
se de A Mulher que Venceu Don Juan
(Lisboa, âncora Editora, 2013).
É num fôlego que se lê esta obra. Não é propriamente a
escrita narrativa que está “na moda” , no “politicamente correcto” dos últimos
romances que por aí pululam. Trabalho incessante sobre diálogos numa mestria
como já não via há muito tempo.
Inicialmente foi publicado, enquanto folhetim, no facebook,
onde se transformou num fenómeno viral.
É um livro de apelo à libertação das mulheres vítimas de
violência doméstica.
A personagem Manuela,
por exemplo, encontra se a elaborar um atese de doutoramento sobre o livro de
Kierkegaard Diário de um Sedutor.
Sara é a personagem principal seguida por Lúcia psicóloga. E
faz uma tese de mestrado com Ernesto
Rodrigues que, não por acaso, é marido da escritora Teresa Martins Marques. Foi
aluna de Teresa Cadete, igualmente professora na Faculdade de Letras.
O título remete nos para Don Juan o sedutor eterno. Mas
existem três Don Juan no romance: um que é uma mulher colecionadora de homens;
outro que aparenta gostar de mulheres mas sublima uma homossexualidade e um
outro, muito cruel.
É um livro assumidamente feminista e nisso também não está
na onda de uma escrita com “palavrões” ,
muito pretensamente “difícil” e sem uma estória inclusa.
Impregnado de diálogos fortes e muito bem manuseados A Mulher que Venceu Don Juan é a aposta
na força dos mais fracos, nas mulheres que sofrem em silêncio, na violência
psicológica, na amostragem de machismos seculares.
O caso do Dr. Fróis e de Amaro é interessante: predadores
sexuais, o primeiro sem querer assumir qualquer filho de mulheres que
“conquistava”, são de uma misoginia intrínseca.
Homens que se julgam donos e proprietários de mulheres e que
as perseguem muitas vezes matando as. A escritora, aliás, fala da importância
da APAV na segurança e apoio às vítimas. Não se trata de algum aspecto de faixa
etária ou estrato social mas de um fenómeno transversal na sociedade
portuguesa. Por ano centenas de mulheres são mortas ou feridas pelos
companheiros. As mazelas psicológicas são muito difíceis de sarar.
Neste brilhante romance, Don Juan é a personalidade
psicanalítica da sedução pela sedução, propriedade exercida sobre as mulheres e
a loucura do ciúme doentio. A posse pela posse, o estereótipo da mulher
recatada e que só pode exercer determinadas profissões.
Teresa Martins Marques na sua coragem exibe o sonho de
mulheres que conseguem sublevar se e trazer à superfície a sua dignidade
ferida. Romance coragem. Romance sobre tiranias. Romance, afinal, sobre a
condição feminina desde sempre, apesar das evoluções, apesar das conquistas. A
ler, urgentemente.
Cecília Barreira nasceu em Lisboa e é Doutorada e Agregada
em Cultura Portuguesa
Contemporânea.
É Professora e Investigadora do CHAM-FCSH/Universidade Nova
de Lisboa.
Iniciou a sua atividade poética com o livro, Lua Lenta, de
1984 e tem vindo a publicar alguns livros de poesia, estando inserida em
antologias.
Em 1992 publicou o livro “Retrato da Burguesa Em Lisboa
(1890-1930), História das Nossas Avós”, que iniciou um trilho académico sobre
estudos de quotidiano no feminino
Os ensaios sobre Cultura e Pensamento Contemporâneos
constituem a obra ensaística, iniciada em 1981, com o livro, “Nacionalismo e
Modernismo/De Homem Cristo Filho a Almada Negreiros”, e, mais recentemente
sobre alguns aspetos do Diário de Lisboa e revistas dos primórdios do século
XX.
Bibliografia (Poesia):
Lua Lenta, Europress, 1984
A Sul da Memória, Europress, 1987
15 anos de Alguma Poesia, Europress, 1999
7&10, Europress, 2003
Cartas BD, Gama, 2005
Todos os Pecados do Mundo, Labirinto, 2014
Com o pseudónimo de Luís Silva:
Macaco Esquisito, Ecopy, 2009
Os Pecados de Todos
em Múltiplo, Ecopy, 2009
Com o pseudónimo Eva Figueiredo:
Conhecimento, Mecanismo Humano, 2013
Existência, Mecanismo Humano, 2013
Antologias:
Cintilações da Sombra II e III, sob o nome de Cecília
Barreira, Labirinto, 2015
Gosto10
Principais Obras Publicadas
Desvarios e Erros Meus
2018, Cordão de Leitura
O amor como leitmotiv é apresentado como movimento dialético
e ascensional que parte do corpo para as ideias, do concreto ao abstracto,
percorrendo os diversos poemas com uma energia tão viva e cativante como também
paralisante e perturbadora. Assim sucede porque neste retrato totalizante do
amor a autora não esquece … Ler mais
Todos os
Pecados do Mundo
2014, Labirinto
Existência
2013, Mecanismo Humano
Conhecimento
2013, Mecanismo Humano
7&10
2003, Europress
15 anos de Alguma Poesia
1999, Europress
A Sul da Memória
1987, Europress
Lua Lenta
1984, Europress
O que acontece
quando morre o jardineiro?
16/02/2018
Teixeira Gomes,
‘Carnaval Literário’ e o Martinho da Arcada
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‘Carnaval Literário’ e o Martinho da Arcada
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