Diálogo da Autora com Maria van der Bent, em
18 de Maio de 2013
(após a publicação do último episódio do
romance na forma folhetim)
Maria van der Bent: Teresa, Um último episódio
muito doce ("onde repetiram muitas vezes o que aprenderam um com o
outro..." - que bonito!) e nostálgico, culminando na carta, com o jantar
do Guincho em jeito de "comic relief". No final, deu-me uma tristeza,
que nem imagina! São muitos meses deste encontro semanal...Exactamente na
semana passada disse-me que gostaria de saber o que eu achava sobre o destino
que tinha arranjado para o Manaças e qual a apreciação geral. Quanto ao
Manaças, o "castigo" (está entre aspas, porque, em si, não é uma
coisa má um homem apaixonar-se por outro) de que me lembrei logo no início foi
realmente este, pois que maior ironia do destino para um machista engatatão do
que apaixonar-se a sério e ainda por cima por um homem? Relativamente à
apreciação, não sei escrever aquelas coisas como faz o Ernesto, por isso digo
apenas que gostei muito das "mensagens", ou seja gostei e
identifico-me com a água que a Teresa pretendeu - e conseguiu magnificamente -
levar ao seu moinho. Gostava ainda de salientar o quanto apreciei toda a
informação que conseguiu incluir na história, por ex., sobre Tavira, Moncorvo,
Lisboa, o teatro da prisão, o padre da música, etc., etc., assim como todos os
detalhes minuciosos, como nomes de ruas - por acaso, embora não seja do Porto,
sabia a fama da Santos Pousada:) - nomes de lojas, descrições de edifícios,
enfim, a Teresa sabe tanto de tanta coisa! Por tudo, muito obrigada e o maior
sucesso para o livro. Com mil beijinhos.
18/5 às 18:02
Teresa Martins Marques: Querida Maria van der
Bent Nem sei por onde começar a agradecer-lhe! É claro que desde o princípio
percebi que percebeu a minha ideia final para o Manaças. E agradeço-lhe ter-mo
feito saber sem desvendar a história. Quanto à tristeza, eu também a senti.
Chama-se síndrome do ninho vazio (como bem lembrou a Margarida Cascarejo que
também é sibila....) Posso mesmo dizer que escrevi o final em lágrimas. Quem é
que disse que a emoção não faz parte do texto? Eu não! Vamos fazer os
"episódios finais" na Faculdade e no lançamento do livro. O meu editor
vai ser sensível aos vossos comentários, tenho a certeza! O Ernesto Sábato
disse que "as ficções salvam os que as escrevem e os que as lêem."
Por evidente processo de identificação. Por isso procurei elementos para que um
maior número de leitores se pudessem identificar com a história. Meter nela os
leitores e outras pessoas que eu conheço foi uma dessas formas de
identificação. Quando as leitoras do folhetim do século XIX choravam com as
heroínas era apenas porque a vida delas poderia ser a sua. Esta história é a
que foi ou poderia ter sido passada com pessoas que eu conheço, a começar por
mim. Daí que tente cumprir aquele princípio da autenticidade que os
presencistas defendiam e Régio em particular e que ficou escrito no nº 1 da
revista Presença- o conceito de literatura viva. Agora vou seleccionar
extractos dos vossos comentários, e será mais uma forma de os leitores
participarem no Colóquio do dia 16/ 17 de Julho. É claro que gostaria imenso de
os ver lá pessoalmente! Um grande beijo.
18/5 às 18:24
Maria van der Bent: Teresa, Compreendo
perfeitamente as suas lágrimas. Como sabe, eu identifiquei-me muito com vários
dos seus pontos de vista, como, por ex., o facto de que a tão louvada
incondicionalidade do amor (conjugal/parental), em certas circunstâncias, não é
mais do que puro masoquismo, a desmitificação de certas figuras do jet-set,
aparentemente muito "finas", que pululam pelas capas de um certo tipo
de revistas, mas que no fundo são ocas e hipócritas (as falsas amigas da Sara,
no enterro do Amaro), quando não mesmo completamente depravadas (o dito). A
estas a Teresa contrapôs várias pessoas simples, mas de bons sentimentos,
aliás, acho que uma das ideias importantes da história é este reconhecimento do
valor de pessoas como as companheiras de Sara ou o Joaquim, por exemplo, versus
os tais falsos ídolos que de fineza afinal não têm nada. Ainda muito importante
é o seu plaidoyer por uma educação sólida, mesmo tardia como no caso da Sara,
mais uma vez versus a ignorância e futilidade de uma certa classe dita alta que
é de uma enorme pobreza intelectual. Não sei o que é que os alunos do 12º ano
lêem actualmente, mas acho que este seu livro, tão rico de ideias e de
informação, poderia ser um óptimo ponto de partida para várias discussões nas
aulas. Quem sabe, não virá a acontecer?
AUTO-APRESENTAÇÃO DE MARIA VAN DER BENT
Cresci até à 4ª classe na zona da Casa da
Comédia/Janelas Verdes.
Devido a mudança de casa, fiz o liceu todo no
antigo Liceu Nacional de Oeiras do qual tenho as melhores recordações, tanto ao
nível de colegas, com alguns dos quais ainda mantenho contacto estreito, como
de professores, com realce para o professor de História da Literatura
Portuguesa do 6º e 7º anos, Manuel Tavares (o Zé Jorge Letria foi meu colega de
turma e sei que ele tem também. um carinho muito especial por este professor,
infelizmente já falecido há bastantes anos).
Em 1968/69 entrei para a Faculdade de Direito,
mas não gostei e sempre que podia ia assistir às aulas de uma amiga do liceu,
na Faculdade de Letras.
Pensei mudar de curso, mas os meus pais
acharam que era uma pena e acabei por continuar até ao 3º ano (fui colega de
turma do mesmo Zé Jorge, do Miguel
Sousa Tavares, da Teresa Beleza, do Pedro Saraiva - filho do Prof. José Hermano
Saraiva.
Nas férias de 1972 fui à Holanda, onde vivia
um familiar, e resolvi lá ficar.Casei em 1973 e só voltei a Portugal em 1974.
Em 11 de Setembro de 1976 tive um filho,
nascido em Lisboa, a quem chamei Viktor, em homenagem ao cantor chileno Victor
Jara, assassinado em 1973, na altura do golpe.
Em 1978
voltei para a Holanda e passei os anos 80 parte lá, parte cá, com várias idas e
vindas. Até aos anos 90, sempre que estive em Portugal vivi na zona de
Cascais/Estoril.
Nos
anos 90 voltei praticamente a viver em Portugal a tempo inteiro, perto de
Palmela.
Nessa altura, inscrevi-me, finalmente, na
Faculdade de Letras, no curso de Línguas e Literaturas Modernas, vertente
inglês/alemão.
Mais do que o curso em si , naquele momento,
interessava-me aproveitar o facto do
curso ter como disciplina de opção - dois anos de língua neerlandesa, pois
queria ter uma prova rápida dos meus conhecimentos de holandês, para trabalhar
como tradutora . Fiz muitas, quase todas de tipo legal, como as directivas
comunitárias que começavam a chegar de Bruxelas e documentos vários para
advogados.
Assim que fiz essas cadeiras de neerlandês,
por razões de tempo e logísticas, passei para a Universidade Aberta e foi na
ESE de Setúbal que acabei por fazer os exames do resto das cadeiras do curso.
Seguidamente, trabalhei dois anos como
professora de inglês na Escola da Quinta do Conde, 8º e 9º e 3º, 4º e 5º
nocturno.
Em 2000
mudei-me para a Foz do Arelho e em 2011 para o Algarve.
Em 2005 comecei a trabalhar como tradutora e
redactora para uma editora que publica material de apoio para contabilistas e
gerentes de pequenas e médias empresas, nomeadamente uma revista quinzenal e
livros técnicos sobre legislação vária. É isso que ainda continuo a fazer.
Como se nota, gostei muito de conversar com a Teresa, quando da publicação do folhetim no facebook. Não é todos os dias que se tem oportunidade de dialogar com o autor de um livro/texto de que gostamos, especialmente durante a criação do mesmo. Obrigada pela disponibilidade e...espero(amos) pelo próximo.
ResponderEliminar