Teresa Martins Marques em Torre de Moncorvo |
De uma realidade nua e crua, tão longínqua e tão próxima, solta-se, de
Trás-os-Montes ao Algarve e, por terras de além mar: Moçambique, Brasil ou
Argentina, este romance tridimensional de Teresa Martins Marques, " A Mulher que venceu Don Juan
". O ela, nós e eles, entre elementos ficcionais e pessoas concretas,
amadas e conhecidas do eu, na aventura do diálogo constante, directo e
indirecto do drama ou do humor, nessa corajosa analogia de palavras com
diferentes valores simbólicos (alma,
lama, frio, frois, froid, pág.43). "Tu és eu e eu sou tu" (pág. 79). Leonor
caminha pela verdura do amor desalentado e cansado de mãe como em diversos socalcos
da verdadeira vida. Quisera que a realidade fosse diferente! Mas, a violência
assume contornos diversificados, mesmo na própria casa, e, com as pessoas que
mais amamos.
O papel da APAV no apoio contra essas formas de tirania, revê-se na figura
da Dr.ª Lúcia e das mulheres vítimas de violência doméstica como Sara, Marta e
Odete e, mesmo no Prof. Luís, que transformaram o medo em sobrevivência heroica
contida em raiva. Porque: "o amor não é mais forte do que nós. Se
deixarmos que o seja, acabou-se a liberdade" (pág.88). Teremos de matar "esse veneno chamado destino" e
"recomeçar, não ter medo de recomeçar. Amanhã é sempre outro dia"
(pág.103).
Uma cativante aventura pelos
caminhos da Filosofia, Literatura e Psicologia, evidenciando um imenso
conhecimento literário, cultural e histórico, numa linguagem rigorosa e
atrativa, que nos prende e suspende às suas páginas, na ânsia da compreensão do
desenlace final. São exemplo: o conhecimento da Tavira árabe, o Porto ou a
Lisboa de hoje e de ontem; a psicanálise de Freud e a filosofia de Kierkegaard
e o seu " Diário do Sedutor " (págs 136, 137, 303 e 304), na interpretação da
sexualidade patológica do Don Juanismo (masculino e feminino) e a sua essência
teatral e manipuladora, do " não-ser e o não-estar em parte alguma, a não
ser em trânsito ", para dominar e violentar o outro: " pássaro e
cobra " da sedução, dada a sua incapacidade de amar outrem, a não ser a si
próprio, na compulsividade inconsciente de se afastar (reprimir) do objecto do
seu desejo: alguém do mesmo sexo, que quer, afinal (pág 234 e 235). Porque, na
impossibilidade de " curar " um psicopata do amor "serial
lover", o " amar é separar-se, quando do convívio só resulta dor "
(pág 302).
Emerge este belo e cativante romance de Teresa Martins Marques, pelos
mares bravios da realidade existencial que impiedosa e cruel, nas diferentes faces de violência e
exploração do ser humano, contrasta com os percursos laterais das ondas suaves
de amor, tolerância, solidariedade e
liberdade, nunca desistindo de construir um mundo melhor pela dignificação da vida das pessoas, numa corajosa ética profissional, missão tão
simples e dura de muitos (as) e tendo como lema de vida o de Manuela, numa
frase de Eduardo Lourenço: " Não emprestarei os meus joelhos aos ídolos
sentados no lugar impossível de Deus".
Parabéns e muito obrigada, Teresa Martins Marques, foste tu a Corajosa e
Grande " Mulher que venceu Don Juan ".
Bragança, 3 de agosto de 2014
Mª Idalina Alves de Brito
A página da Poeta no face: https://www.facebook.com/midalina.alvesdebrito
VER:
Ana Diogo:
ResponderEliminarExcelente este texto de Mª Idalina Alves de Brito que voltei a ler, agora com mais tempo. Parabéns, Teresa Martins Marques, por merecer por inteiro esta recensão tão elogiosa quanto bem fundamentada!