ONÉSIMO
TEOTÓNIO ALMEIDA
(Professor
catedrático da Brown University- EUA)
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Foi um tal
trambulhar estes dias. Chegar a casa e
ter de ficar lá muito pouco tempo porque... Guess what? o tema do
seu romance: tínhamos emprestado a casa a uma amiga com dois filhos que teve de
sair de um casamento por causa de uma situação semelhante às das mulheres do
seu romance. Como o divórcio ainda não está resolvido,
deixámo-la ficar lá até ao final do mês e viemos para o Maine. No meio disto
tudo, o seu livro ficou atrás num dos caixotes trazidos de Lisboa. Portanto,
tudo o que aqui disser é de cor.
Acho que a
expressão da Leonor - um page turner - está correcta. Chega-se ao fim de
uma página e quer-se logo passar à seguinte a ver o que se vai passar. Estão
sempre a acontecer coisas e por isso, nesse aspecto, o livro tem muito de TV e
de filme, até porque não me recordo de um livro português com tanto diálogo. É
impressionante a vivacidade deles, as temáticas abordadas, a vida que as cenas
ganham naquelas trocas de frases. Tem aí uma grande novidade na literatura
portuguesa, sempre muito descritiva e algo mortiça.
O livro é
também um belo retrato da sociedade portuguesa de hoje e dos seus problemas que
afloram a cada passo nos diálogos.
Pareceu-me
que, para um romance, a protagonista é demasiado impecável, como se se tratasse
de uma novela exemplar. Distingo aqui as pessoas da vida real e as personagens
de romance, que normalmente (no romance moderno) costumam ser complexas e
exibir atitudes nem sempre recomendáveis. Ou pelo menos auto-irónicas. É
verdade que a certa altura ela afirma só ter dúvidas, mas acaba nunca agindo
como se as tivesse. Sabe sempre o que deve ser feito e sem qualquer hesitação.
Repito: estou a falar da personagem do romance.
Claro que
estou demasiado influenciado pela escrita anglo-americana, mas o enredo, o estilo cinematográfico e os
vivíssimos diálogos não me faziam lembrar outra coisa. E ainda bem porque não
tenho pachorra para o moer em vão de muita ficção portuguesa.
Aqui e acolá,
pareceu-me um excesso de erudição. Também - e para continuar a ser
completamente sincero - não fiquei convencido da necessidade de mencionar
pessoas da vida real pelo seu nome, sobretudo porque o faz apenas para elogiá-las.
Faltou o outro lado. Já que preferiu não acrescentar essa outra dimensão, creio
que teria sido melhor usar nomes fictícios.
Tudo isso são
registos de leitor que têm a ver só comigo e com as minhas preferências.
Disse-lhe do que gostei e do que gostei menos.
E não lhe
falei ainda do meu muito agrado pelas posições éticas que defende ao tratar de
um problema tão sério como esse da situação das mulheres abusadas. No meio de
tanta literatura pós-moderna que não se preocupa com a ética, tiro-lhe o
chapéu. Não venceu só o Don Juan, venceu
os cobardolas.
ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA (Professor catedrático da Brown University- EUA)
Biografia
Estudou no Seminário de Angra e depois na Universidade
Católica, em Lisboa, onde se bacharelou em 1972, ano em que emigrou para os
EUA. Em 1977 completou uma licenciatura e em 1980 um doutoramento no
Departamento de Filosofia da Brown University (Providence, Rhode Island). Em
1975 começou a leccionar no Centro de Estudos Portugueses e Brasileiros dessa
mesma universidade, que ajudou a criar. Em 1981 foi nomeado Assistente nesse
Centro; em 1987, promovido a Professor Associado; em 1991, a Professor Catedrático.
O Centro entretanto passou a Departamento e foi dele seu director de 1991-2003.
É Fellow do Wayland Collegium for Liberal Learning, um Instituto de Estudos
Interdisciplinares na Brown University, onde lecciona uma cadeira sobre Valores
e Mundividências.
Para além das obras em livro, tem centenas de escritos em
revistas e livros colectivos. Fundou e dirige a editora Gávea-Brown, dedicada à
edição em inglês de obras de literatura e cultura portuguesas, que edita também
a revista Gávea-Brown – a Bilingual Journal of Portuguese American Letters and
Studies, que ele fundou e co-dirige. É co-editor do e-Journal of Portuguese
History e de Pessoa Plural, ambas revistas electrónicas editadas em cooperação
internacional e publicadas na Brown University.
Desde 1979 mantém um programa bimensal no Portuguese
Channel, de New Bedford, Massachusetts, e durante dois anos manteve um programa
semanal – “Onésimo à conversa com…” – na RTP Açores. Foi colaborador regular n’
O Jornal e no Diário de Notícias. É colaborador regular na revista LER, na
PNETLiteratura e no Jornal de Letras. Entre as organizacões a que pertence, é
membro da direcção da PALCUS – Portuguese-American Leadership Council of the
United States. Foi Vice-Presidente do Rhode Island Council for the Humanities e
da Associação Internacional de Lusitanistas. Foi eleito Membro da Academia
Internacional de Cultura Portuguesa.
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