29/06/2014

Manuel da Mata e A MULHER QUE VENCEU DON JUAN

Quando terminei a leitura de A MULHER QUE VENCEU DON JUAN de Teresa Martins Marques, na manhã de 11 de Fevereiro do corrente ano, fiquei com a sensação de que não tinha lido apenas mais um romance. Não me dei conta de grandes inovações formais, é certo, mas a temática e o modo de escrever da autora tinham-me conquistado.
     O quarto da Filipa era em frente da nossa biblioteca. Uma biblioteca com muita poesia e com muita prosa romanesca e ensaística. Era a biblioteca do pai e da filha, que agora é só do pai, ainda que a filha continue presente neste pequeno grande mundo de faunos, mortos muitíssimos e vivos muitos, felizmente.
 - Acabei de ler a Teresa Martins Marques e gostei imenso.
- Eu também hei-de ler o livro e depois trocamos impressões.
- Sim, tá bem, mas eu vou já escrever umas linhas, que tenho as ideias frescas.
- Acho bem. Depois mostra-me.

     Eu comecei a teclar o texto, que publiquei no blogue FRAGMENTÁRIA MENTE,enquanto a Filipa continuou a trabalhar no ALMANAQUE, que foi o seu último trabalho sob a orientação da Professora Vânia Chaves, no CLEPUL. Não precisei de muito tempo para escrever o pequeno texto sobre aquele que para mim era o romance de 2013. O romance de 2014 é de outra autora, que, por sinal, também é uma excelente amiga.
- Já escrevi, Filipa.
-Lê lá, pai.
     Lido o texto, perguntou-me:
- A que propósito vem o Bernardim?
- É o “incipit” menina. É um verdadeiro achado, Sara a protagonista saiu de casa de seus pais, a contragosto, com dezassete anos.
- Bem visto, pai. O texto é curtinho mas está giro. Publica-o no blogue.


E o pedido foi aceite. Imediatamente. Desta vez a Filipa, que sempre tive como segunda leitora, exigente, não leu o meu texto. Ouviu. Não teve tempo para ler o romance da amiga, do qual conhecia fragmentos lidos no Facebook. Ficámos com essas impressões por trocar.

A MULHER QUE VENCEU DON JUAN de Teresa Martins Marques é um excelente romance, que vai, seguramente, dar muito que falar nos tempos mais próximos. Por várias razões, entre as quais avultam: o tema central, a violência doméstica, que é “transversal a todos os estratos da sociedade”; a qualidade da escrita, que revela uma autora capaz de utilizar a língua portuguesa com grande mestria, nos mais diversos registos; a inscrição na matéria romanesca da própria crise que a sociedade portuguesa atravessa, na actualidade.
   A MULHER QUE VENCEU DON JUAN agarra o leitor no primeiro parágrafo e o mais apetrechado não deixará de lembrar Bernardim: ”Saudades, só tenho do mar. Da vista do mar da Foz. Por mais que pense que o Atlântico é o mesmo, este que vejo aqui da janela do Monte da Caparica não o sinto como meu. A Foz era outra coisa”. Mas esta “menina e moça”, Sara, que casa aos dezassete anos com um médico, o cirurgião plástico Amaro Fróis, por imposição dos pais, dá imediatamente conta ao leitor da sua vida fútil e deixa adivinhar a má relação que tem com o marido. Depois, depois o livro lê-se num ápice, porque as trezentas e vinte e quatro páginas estão recheadas de peripécias múltiplas, onde a par da narrativa principal, outras narrativas se vão encaixando, sem nunca perder de vista o tema central da obra, ou seja, a violência doméstica.
  Não olvidarei, seguramente, Sara, Amaro, Paulo, Lúcia, Luís, Joana, Odete, Maria, Manaças, Francisco, etc., o que augura um destino auspicioso para este romance.

BIOGRAFIA BREVE
 Manuel da Mata, aliás Manuel Barata, nasceu na Mata, Castelo Branco, em 1952.
Frequentou a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na década de oitenta do século passado, pela qual se licenciou em Estudos Portugueses e Franceses.
Foi funcionário público e professor do ensino secundário privado.
Escreve poesia e prosa com regularidade. Estreou-se com QUADRAS QUASE
Popular (2003) e o último livro publicado dá pelo nome de QUADRAS POPULARES – UMAS SIM, OUTRAS QUASE (2011).
Viveu na Mata, Castelo Branco, Paris, Luanda e Santa Iria de Azóia.
É aposentado da função pública.

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