Quando terminei a
leitura de A MULHER QUE VENCEU DON
JUAN de Teresa Martins
Marques, na manhã de 11 de Fevereiro do corrente ano, fiquei com a sensação de
que não tinha lido apenas mais um romance. Não me dei conta de grandes
inovações formais, é certo, mas a temática e o modo de escrever da autora
tinham-me conquistado.
O quarto da Filipa
era em frente da nossa biblioteca. Uma biblioteca com muita poesia e com muita
prosa romanesca e ensaística. Era a biblioteca do pai e da filha, que agora é
só do pai, ainda que a filha continue presente neste pequeno grande mundo de
faunos, mortos muitíssimos e vivos muitos, felizmente.
- Acabei de ler a
Teresa Martins Marques e gostei imenso.
- Eu também hei-de ler o livro e depois trocamos impressões.
- Sim, tá bem, mas eu vou já escrever umas linhas, que tenho
as ideias frescas.
- Acho bem. Depois mostra-me.
Eu comecei a
teclar o texto, que publiquei no blogue FRAGMENTÁRIA MENTE,enquanto a Filipa continuou a trabalhar no ALMANAQUE, que foi o seu último
trabalho sob a orientação da Professora Vânia Chaves, no CLEPUL. Não precisei
de muito tempo para escrever o pequeno texto sobre aquele que para mim era o romance
de 2013. O romance de 2014 é de outra autora, que, por sinal, também é uma
excelente amiga.
- Já escrevi, Filipa.
-Lê lá, pai.
Lido o texto,
perguntou-me:
- A que propósito vem o Bernardim?
- É o “incipit” menina. É um verdadeiro achado, Sara a
protagonista saiu de casa de seus pais, a contragosto, com dezassete anos.
- Bem visto, pai. O texto é curtinho mas está giro. Publica-o
no blogue.
E o pedido foi aceite. Imediatamente. Desta vez a Filipa, que
sempre tive como segunda leitora, exigente, não leu o meu texto. Ouviu. Não teve
tempo para ler o romance da amiga, do qual conhecia fragmentos lidos no
Facebook. Ficámos com essas impressões por trocar.
A MULHER QUE VENCEU DON JUAN de Teresa Martins Marques é um
excelente romance, que vai, seguramente, dar muito que falar nos tempos mais
próximos. Por várias razões, entre as quais avultam: o tema central, a
violência doméstica, que é “transversal a todos os estratos da sociedade”; a
qualidade da escrita, que revela uma autora capaz de utilizar a língua
portuguesa com grande mestria, nos mais diversos registos; a inscrição na
matéria romanesca da própria crise que a sociedade portuguesa atravessa, na
actualidade.
A MULHER QUE VENCEU
DON JUAN agarra o leitor no primeiro parágrafo e o mais apetrechado não deixará
de lembrar Bernardim: ”Saudades, só tenho do mar. Da vista do mar da Foz. Por
mais que pense que o Atlântico é o mesmo, este que vejo aqui da janela do Monte
da Caparica não o sinto como meu. A Foz era outra coisa”. Mas esta “menina e
moça”, Sara, que casa aos dezassete anos com um médico, o cirurgião plástico
Amaro Fróis, por imposição dos pais, dá imediatamente conta ao leitor da sua
vida fútil e deixa adivinhar a má relação que tem com o marido. Depois, depois
o livro lê-se num ápice, porque as trezentas e vinte e quatro páginas estão
recheadas de peripécias múltiplas, onde a par da narrativa principal, outras
narrativas se vão encaixando, sem nunca perder de vista o tema central da obra,
ou seja, a violência doméstica.
Não olvidarei,
seguramente, Sara, Amaro, Paulo, Lúcia, Luís, Joana, Odete, Maria, Manaças,
Francisco, etc., o que augura um destino auspicioso para este romance.
BIOGRAFIA
BREVE
Manuel
da Mata, aliás Manuel Barata, nasceu na Mata, Castelo Branco, em 1952.
Frequentou
a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, na década de oitenta do século
passado, pela qual se licenciou em Estudos Portugueses e Franceses.
Foi
funcionário público e professor do ensino secundário privado.
Escreve
poesia e prosa com regularidade. Estreou-se com QUADRAS QUASE
Popular (2003) e o último livro publicado dá
pelo nome de QUADRAS POPULARES – UMAS
SIM, OUTRAS QUASE (2011).
Viveu
na Mata, Castelo Branco, Paris, Luanda e Santa Iria de Azóia.
É
aposentado da função pública.
Sem comentários:
Enviar um comentário