A recensão de Eugénio Lisboa, sábia e
bem-disposta, faz justiça a romance cuja matriz folhetinesca ‒ na veiculação
semanal ‒ encantou leitores, a maioria dos quais repetiu a experiência em
livro, entretanto revisto e acrescentado. Conformes no «protocolo do
‘roman-feuilleton’», cujos cultores e títulos maiores são enunciados, parece-me
haver uma retracção do crítico na parte final, ao afirmar que «não é folhetim
quimicamente puro», por duas razões principais: o passeio de Sara pela Lisboa
do Guia de Portugal e o trabalho de tese em curso de Manuela. Quanto ao
passeio, e com mais informação (datas, etc.), bastaria olhar ao grande folhetim
camiliano A Queda Dum Anjo, em que Calisto Elói se mune de primeiras edições
seiscentistas para visitar as fontes e outros lugares da capital, sendo que, na
falta de transportes e vias de comunicação, ao tempo, o folhetim era o
repositório mais completo de quem não saía da sua terra. Viajava-se pela
imaginação, ciceronerando os leitores por universos nem sempre verosímeis.
Quanto à presença de Manuela, e suas preocupações, estas são a do leitor que se
interroga sobre os tipos, causas e efeitos do donjuanismo, transportando para o
diálogo com figura central, Lúcia, a explicação mais concorde, e, do mesmo
passo, iluminando a acção. Ainda aqui, antes do romance-ensaio (que este também
é) no século XX, a ficção oitocentista levantou, junto do grande público,
questões de moral que só poucos filósofos discutiam.
Ernesto Rodrigues
Ernesto Rodrigues (1956) é professor na Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa e presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes.
Antigo jornalista e leitor de Português na Universidade de Budapeste entre 1981
e 1986, publicou 20 obras de poesia e ficção, desde 1973 até à mais
recente, A Casa de Bragança, em 2013.
Prefaciou 21 autores portugueses e traduziu mais de 20 obras
húngaras, incluindo o Prémio Nobel Imre Kertész, os escritores Sándor Márai,
Deszo Kosztolányi e Magda Szabó e ainda uma Antologia da Poesia Húngara,
em 2002. Reuniu oito volumes de ensaios, merecendo particular menção Mágico
Folhetim: Literatura e Jornalismo em Portugal (1998) e Cultura
Literária Oitocentista (1999).
O seu currículo pode ser consultado em www.ernestorodrigues.blogspot.com
Entrevistas:
2008. Padre António Vieira, Sermões, Cartas, Obras
Várias. Selecção e Prefácio de Ernesto Rodrigues. Lisboa, Tupam Editores,
2008. Entrevista de Ana Marques Gastão em Diário de Notícias (Lisboa),
17-3-2008.
2010. 5 de Outubro. Uma Reconstituição. Lisboa,
Gradiva, 2005. Entrevistas: À volta dos Livros, Antena 1, 17-2-2010; JL
– Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 1030, 24-3-2010, p. 43; Carlos
Pinto Coelho entrevista Ernesto Rodrigues [ver: ernestorodrigues.blogspot.pt].
2011. O Romance do Gramático. Lisboa, Gradiva,
2011. Entrevista de Ana Aranha na RDP, Antena 2, Páginas de Português,
12-2-2012.
2011. António José Saraiva e Luísa Dacosta:
Correspondência. Edição de Ernesto Rodrigues. Lisboa, Gradiva, 2011.
Entrevista na RTP2, Diário Câmara Clara, 23-1-2012.
2012. Bragança, 550 anos. Entrevista de José do
Carmo Francisco, Ler, Livros & Leitores, julho-agosto de 2012,
p. 65.
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