Apresentação do livro no Café MAJESTIC. Na imagem, Teresa Martins Marques e Júlio Machado Vaz |
– Porquê a sexta?
– A condizer com a classificação do Majestic.
– Sim?
– É o sexto mais belo café do mundo.
– Depois de…
– Depois do New York em
Budapeste, Florian di Venezia, Wien Café Central…
– Et du Café de la Paix, à Paris − rematou a dama, com um belo accent parisien, a duplicar um sorriso
trocista.
– Ah, desculpe, afinal estava informada…
– Mais ou menos, acrescentou discretamente.
– O Top 10 da Ucityguides, vale o que vale.
– Na verdade. É discutível que coloquem o Majestic, com todo o respeito pelos portuenses, à frente da
Pastelaria Colombo no Rio.
– Acha? − pergunta, patrioticamente, o cidadão de Avintes.
– É uma simples opinião. Não é
matéria de fé, riu a senhora.
– De fé, não é de certeza, porque o Vaticano ainda não decide os rankings de cafés…
– Também acho muito discutível que se coloque o Gambrinus de Nápoles, à frente do Tortoni de Buenos Aires.
– Lá nisso estou de acordo consigo. Bastaria estar lá o Borges para
aumentar a pontuação.
Arriscou a referência para avaliar o ranking
da dama em matéria literária. Ela percebeu-o e disse-lhe:
– O Tortoni de boa memória. Não
tão boa como a de Funès, é claro…
Agora é que o Manaças ficou mesmo enrascado, não estava a ver nenhuma
ligação entre o popular actor francês e
o Jorge Luis Borges, mas não se desconcertou.
– Pois, o Louis de Funès, mas ele
rodou lá alguma coisa?
Não esperou pela resposta e continuou a debitar:
– Vi-o no Musée Grévin, há
tempos…
– No Grévin? –diz ela a rir da
confusão dele.
– Sim no museu da cera, está de gendarme
mal-humorado.
– Bem, deixe lá , não era
esse Funès, era outro.
– Ah!
O Manaças não tinha
lido Funes el Memorioso, o
conto de Jorge Luis Borges, escrito em
1942, incluído em Ficciones. Acontece aos melhores, quanto mais aos piores. O Manaças
começava a ficar deveras intrigado. Quem
seria a dama? Viajada ela era, para conhecer tanto café por esse mundo. Mas adiante, o que importa é que caia algum,
pelo menos que pague esta conta, ia futurando
o Manaças. Não havia meio de desandar, pensava a dama que ia bebericando
o seu chazinho. Continuando a desejar impressioná-la, o Manaças mudou a
conversa para outras ficções menos
literárias, mas mais rendosas:
– O biógrafo da J. K. Rowling o Sean Smith, refere que ela passava muito
tempo aqui no Majestic a trabalhar no
primeiro Harry Potter.
– Disso não sei nada. Mas sei que há outros mais ilustres que passaram por cá: o
Régio, o Pascoaes, o Leonardo Coimbra, o Manoel de Oliveira, o Júlio
Resende.
– Ah, mas é claro que sim − emendou o Manaças − ao ver que baixara demasisado
a fasquia ao falar de Harry Potter.
A senhora continuou a enumeração: Os quatro vintes…
– Quatro vintes?
– O José Rodrigues, o Armando Alves, o Ângelo de Sousa e o Jorge
Pinheiro, todos classificados com vinte valores nas Belas-Artes.
– Claro, claro, e até mesmo o Gago
Coutinho, sempre acompanhado de belas mulheres…
Manaças acompanhou a frase de um sorrisinho especial.
– Acredito que sim. O livro de visitas mostra bem a qualidade dos
visitantes.
– Viu quem é a primeira pessoa que aparece na internet?
– Vi, sim senhor. Era um grande amigo meu.
– Ah conheceu-o − disse o Manaças entusiasmado − com uma arrière- pensée.
– Conheci-o a ele e à mulher dele,
a Pilar de quem sou
amiga.
O primeiro nome a figurar no livro de visitas da internet era o de David
Mourão-Ferreira, que escrevera, em 9 de
Janeiro de 1986:
Nunca venho ao Porto sem dar ao
menos um salto a este belo café Majestic, que não hesito em considerar como um
dos que em toda a Europa melhor conservam a atmosfera dos começos do século e
que, por isso mesmo, bem importa conservar, preservar, respeitar.
In: A Mulher que venceu Don Juan
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