Teresa Martins
Marques escreveu e publicou o romance A Mulher que Venceu Don Juan”. Do romance
em si, da sua qualidade, elegância e valor literário, outros falaram e irão
falar, muito mais qualificados do que eu para o fazerem. Poderia, ao que me
toca, manifestar a forma agradável como o li, como apreciei o drama, o
suspense, a história, não esquecendo a geografia já que parte do enredo se
desenrola em Trás-os-Montes (Vila Real e, sobretudo, na minha freguesia natal,
Adeganha, no concelho Torre de Moncorvo).
Do tema em si, tão
actual e tão pertinente (a violência doméstica sobre as mulheres), igualmente
espero que os especialistas realcem a importância da obra, não só pela denúncia
realista e crua, como pelo apelo ao despertar das consciências para tão
candente problema ainda dramaticamente presente nos tempos correntes.
O que me faz falar
deste romance é sobretudo a forma como foi escrito e, sobretudo, como essa
forma o tornou actual e lhe conferiu, sem mais, um dos principais objectivos de
qualquer romance, conto, novela, poema ou simples crónica: atrair e chegar aos
leitores!
As novas
tecnologias vieram revolucionar a forma e o modo como olhamos, vemos,
percebemos e nos relacionamos com vários temas, funções, acções e actividades
tradicionais. Desde a publicidade, a correspondência, a arte, o relacionamento
social, o marketing, a actividade comercial, ao lado de uma infindável lista.
São aliás frequentes as “queixas” sobre os “malefícios” que a televisão, no seu
tempo e a internet na actualidade trouxeram às actividades tradicionais. O
afastamento dos espectadores das salas de teatro e do cinema, o alheamento das
crianças das brincadeiras tradicionais de rua e ar livre, o decréscimo da
escrita em papel, a diminuição das visitas aos museus e galerias de exposição e
igualmente a “natural” diminuição dos leitores de livros. É certo que algumas
respostas foram dadas. Os museus passaram a ser interactivos, o cinema trouxe a
terceira dimensão para salas múltiplas e polivalentes, inventaram-se novos
tipos de jogos na natureza com as tecnologias actuais de GPS, electrónica e
realidade virtual e alguns autores passaram a fazer acompanhar as suas obras
com CD’s, DVD’s e outros artefactos tecnológicos.
Afinal, no que toca
à literatura, Teresa Martins Marques descobriu um verdadeiro ovo de Colombo
mostrando que há soluções mais simples e mais eficazes. Tal como no Judo, a
melhor forma de vencer um adversário é a habilidade de aproveitar a força dele
e o empenho que coloca no seu ataque, para o derrubar redireccionando essa
mesma força em nosso proveito.
Se a internet,
genericamente, e o facebook, em particular, concorrem com os produtores de
literatura, se as conversas em tempo real e em chats “esvaziam” a trama e o
mistério dos romances, se as viagens virtuais trazem o realismo para os
viajantes virtuais em desfavor dos escritores e descritores de paisagens e
ambientes, então use-se a internet e o facebook, pessoas reais e incentivem-se
os leitores a descreverem e municiarem o autor de paisagens, ambientes e
descrições realistas e com as vivências que nenhum visitante, por mais
experimentado, algumas vez poderá sozinho ou com pequena ajuda adquirir.
Ora bem, se a
autora assim (e muito bem) o pensou, melhor o fez. O seu livro foi sendo
escrito no facebook, acompanhado de perto e atentamente por uma plêiade de
leitores interessados e intervenientes. O enredo tem de ir ao Algarve? Sejam
então os leitores de Tavira os olhos, os ouvidos e todos os outros sentidos da
Teresa que trarão para o livro as descrições sentidas e pormenorizadas das
deambulações pela Veneza algarvia. É preciso ir a Trás-os-Montes. A Vila Real,
a Moncorvo? Serão os transmontanos a conduzir essa viagem.
Mas não só. É
sabido que muitos autores têm largas conversas e mantêm aconselhamento técnico
com os especialistas das matérias que não dominam. Teresa Martins Marques foi
mais longe! Se a personagem que inventou vai ter de se relacionar com um
professor de literatura, com um agente da polícia ou com um dirigente da APAV,
então porque não direccioná-lo directamente com as pessoas reais que Teresa
conhece e chamá-los para o enredo directamente “obrigando-os” a responder aos
desafios reais que a ficção lhes coloca?
O resultado foi o
interesse imediato que a obra despertou, pois os leitores já estão conquistados
como bem o demonstrou a sala cheia da Livraria Ferin onde foi apresentado, onde
muitos deles eram leitores/autores/actores.
José Mário Leite
(Director Adjunto do Instituto Gulbenkian de Ciência)
in Jornal Nordeste,
25 de Fevereiro de 2014, pág.2.
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