22/08/2014

ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA - «Não venceu só o Don Juan, venceu os cobardolas.»

ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA
(Professor catedrático da Brown University- EUA)
Foi um tal trambulhar estes dias. Chegar a casa  e ter de ficar lá muito pouco tempo porque... Guess what?  o tema do seu romance: tínhamos emprestado a casa a uma amiga com dois filhos que teve de sair de um casamento por causa de uma situação semelhante às das mulheres do seu romance. Como o divórcio ainda não está resolvido, deixámo-la ficar lá até ao final do mês e viemos para o Maine. No meio disto tudo, o seu livro ficou atrás num dos caixotes trazidos de Lisboa. Portanto, tudo o que aqui disser é de cor.
Acho que a expressão da Leonor - um page turner - está correcta. Chega-se ao fim de uma página e quer-se logo passar à seguinte a ver o que se vai passar. Estão sempre a acontecer coisas e por isso, nesse aspecto, o livro tem muito de TV e de filme, até porque não me recordo de um livro português com tanto diálogo. É impressionante a vivacidade deles, as temáticas abordadas, a vida que as cenas ganham naquelas trocas de frases. Tem aí uma grande novidade na literatura portuguesa, sempre muito descritiva e algo mortiça.
O livro é também um belo retrato da sociedade portuguesa de hoje e dos seus problemas que afloram a cada passo nos diálogos.
Pareceu-me que, para um romance, a protagonista é demasiado impecável, como se se tratasse de uma novela exemplar. Distingo aqui as pessoas da vida real e as personagens de romance, que normalmente (no romance moderno) costumam ser complexas e exibir atitudes nem sempre recomendáveis. Ou pelo menos auto-irónicas.  É verdade que a certa altura ela afirma só ter dúvidas, mas acaba nunca agindo como se as tivesse. Sabe sempre o que deve ser feito e sem qualquer hesitação. Repito: estou a falar da personagem do romance.
Claro que estou demasiado influenciado pela escrita anglo-americana, mas  o enredo, o estilo cinematográfico e os vivíssimos diálogos não me faziam lembrar outra coisa. E ainda bem porque não tenho pachorra para o moer em vão de muita ficção portuguesa.
Aqui e acolá, pareceu-me um excesso de erudição. Também - e para continuar a ser completamente sincero - não fiquei convencido da necessidade de mencionar pessoas da vida real pelo seu nome, sobretudo porque o faz apenas para elogiá-las. Faltou o outro lado. Já que preferiu não acrescentar essa outra dimensão, creio que teria sido melhor usar nomes fictícios.
Tudo isso são registos de leitor que têm a ver só comigo e com as minhas preferências. Disse-lhe do que gostei e do que gostei menos.
E não lhe falei ainda do meu muito agrado pelas posições éticas que defende ao tratar de um problema tão sério como esse da situação das mulheres abusadas. No meio de tanta literatura pós-moderna que não se preocupa com a  ética, tiro-lhe o chapéu. Não venceu só o Don Juan, venceu os cobardolas.

ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA (Professor catedrático da Brown University- EUA)


Biografia
Estudou no Seminário de Angra e depois na Universidade Católica, em Lisboa, onde se bacharelou em 1972, ano em que emigrou para os EUA. Em 1977 completou uma licenciatura e em 1980 um doutoramento no Departamento de Filosofia da Brown University (Providence, Rhode Island). Em 1975 começou a leccionar no Centro de Estudos Portugueses e Brasileiros dessa mesma universidade, que ajudou a criar. Em 1981 foi nomeado Assistente nesse Centro; em 1987, promovido a Professor Associado; em 1991, a Professor Catedrático. O Centro entretanto passou a Departamento e foi dele seu director de 1991-2003. É Fellow do Wayland Collegium for Liberal Learning, um Instituto de Estudos Interdisciplinares na Brown University, onde lecciona uma cadeira sobre Valores e Mundividências.
Para além das obras em livro, tem centenas de escritos em revistas e livros colectivos. Fundou e dirige a editora Gávea-Brown, dedicada à edição em inglês de obras de literatura e cultura portuguesas, que edita também a revista Gávea-Brown – a Bilingual Journal of Portuguese American Letters and Studies, que ele fundou e co-dirige. É co-editor do e-Journal of Portuguese History e de Pessoa Plural, ambas revistas electrónicas editadas em cooperação internacional e publicadas na Brown University.
Desde 1979 mantém um programa bimensal no Portuguese Channel, de New Bedford, Massachusetts, e durante dois anos manteve um programa semanal – “Onésimo à conversa com…” – na RTP Açores. Foi colaborador regular n’ O Jornal e no Diário de Notícias. É colaborador regular na revista LER, na PNETLiteratura e no Jornal de Letras. Entre as organizacões a que pertence, é membro da direcção da PALCUS – Portuguese-American Leadership Council of the United States. Foi Vice-Presidente do Rhode Island Council for the Humanities e da Associação Internacional de Lusitanistas. Foi eleito Membro da Academia Internacional de Cultura Portuguesa.

Sem comentários:

Enviar um comentário