Querida Teresa,
Venho
felicitá-la pelo seu romance "A Mulher que Venceu Dom Juan", obra
engenhosa de cativante ficção que tão bem soube temperar com diversos tipos de
narratividade. Claro que os topónimos portuenses me acariciaram o ouvido e
também dezenas de referências culturais que muito prezo. Foi uma bela ideia
essa de o donjuanismo nos dois géneros; pois há mulheres que também têm o vício
da sedução por coleccionismo. Evidente que só poderia ser uma Joana, o que é
bem pensado. O facto de isso tudo desaguar na criminalidade e no bas-fond
acrescenta à obra uma ambiência de suspense que mantém agudo interesse. Aquele
Amaro é realmente um super-vilão que nos sabe bem ver assassinado com a cara
esfrangalhada. Andamos um bocado fartos de certas narratividades cheias de
experimentalismos indigestos e livros como o seu reconciliam-nos com uma limpa
diegese. Só há uma coisa que não problematizo da mesma forma, embora perceba
que não se adequava à economia do entrecho. É que parece que as relações entre
as mulheres vítimas nas casas-abrigo não são sempre tão amoráveis e solidárias
porque são seres perseguidos e torturados por pais (se os tiveram) e depois
companheiros violentos. Aliás tenho pouca fé na solidariedade das mulheres,
umas para as outras. Estive num grupo feminista nos fins dos 80, que se formou
aqui no Porto. Até editamos uma revista de nome "Artemísia". Isso
deu-me alguma prática para observar a qualidade da solidariedade feminina. De
qualquer forma só lhe temos a agradecer este livro e o muito trabalho mas
certamente muito prazer que lhe deu a escrever. Receba um afectuoso abraço com
muita consideração e reconhecimento.
Inês Lourenço
NOTA BIOBIBLIOGRÁFICA
INÊS LOURENÇO nasceu no Porto e tem publicado desde 1980
mais de uma dezena de títulos de poesia, colaborado em inúmeros livros
colectivos e tem sido seleccionada para um considerável número de antologias em
Portugal e noutros países. É licenciada em Línguas e Literaturas Modernas
(Estudos Portugueses) pela FLUP (Faculdade de Letras da Universidade do Porto).
Poemas seus foram incluídos em publicações portuguesas de referência, como:
Jornal de Letras Artes e Ideias; Revista Relâmpago; Colóquio/Letras; Jornal
Público; Semanário Expresso; Inimigo Rumor; Telhados de Vidro; Águas Furtadas;
Cão Celeste; etc. Colaborou, igualmente, em publicações de poesia do Brasil,
Espanha, França, Itália, Áustria, México, Marrocos e Roménia, com poemas que
foram traduzidos nas respectivas línguas. Alguns títulos da obra poética: Os
Solistas, 1994. Um Quarto com Cidades ao Fundo, 2000. Logros Consentidos, 2005.
A Disfunção Lírica, 2007. Coisas que nunca, 2010. Câmara Escura, 2012.
Ephemeras, 2012. O Segundo Olhar, 2015. O Jogo das Comparações, 2016. Fundou e
editou durante cerca de doze anos (1987-1999) os Cadernos de poesia – Hífen,
com 13 números publicados, na maioria temáticos, onde colaboraram com textos
inéditos, grande parte dos poetas portugueses da época, (António Ramos Rosa,
Eugénio de Andrade, Sophia de Mello Breyner, Fiama H. Pais Brandão, Adília
Lopes, Al Berto, Luís Miguel Nava, Natália Correia, etc, e diversos poetas de
outras línguas em tradução de poetas portugueses como Paul Celan, Sylvia Plath,
Jorge Luís Borges, Thom Gunn, Ezra Pound, Ingeborg Bachamann, etc). A sua obra
tem sido objecto de recensões críticas por parte de poetas, críticos e
ensaístas, tais como: António Guerreiro, Manuel de Freitas, Fernando Guimarães,
Maria Alzira Seixo, António Carlos Cortez, Diogo Vaz Pinto, Hugo Pinto dos
Santos, Valter Hugo Mãe, José Mário Silva, Pedro Sena-Lino, etc. Foi júri de
diversos prémios de poesia, entre eles o de Vasco Graça Moura e de Eugénio de
Andrade. É sócia da APE, do Pen Clube e da SPA.
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