04/08/2014

Mª Idalina Alves de Brito e " A MULHER QUE VENCEU DON JUAN "

Teresa Martins Marques em Torre de Moncorvo

De uma realidade nua e crua, tão longínqua e tão próxima, solta-se, de Trás-os-Montes ao Algarve e, por terras de além mar: Moçambique, Brasil ou Argentina, este romance tridimensional de Teresa Martins Marques, " A Mulher que venceu Don Juan ". O ela, nós e eles, entre elementos ficcionais e pessoas concretas, amadas e conhecidas do eu, na aventura do diálogo constante, directo e indirecto do drama ou do humor, nessa corajosa analogia de palavras com diferentes  valores simbólicos (alma, lama, frio, frois, froid, pág.43). "Tu és eu e eu sou tu" (pág. 79). Leonor caminha pela verdura do amor desalentado e cansado de mãe como em diversos socalcos da verdadeira vida. Quisera que a realidade fosse diferente! Mas, a violência assume contornos diversificados, mesmo na própria casa, e, com as pessoas que mais amamos.
O papel da APAV no apoio contra essas formas de tirania, revê-se na figura da Dr.ª Lúcia e das mulheres vítimas de violência doméstica como Sara, Marta e Odete e, mesmo no Prof. Luís, que transformaram o medo em sobrevivência heroica contida em raiva. Porque: "o amor não é mais forte do que nós. Se deixarmos que o seja, acabou-se a liberdade" (pág.88). Teremos de matar  "esse veneno chamado destino" e "recomeçar, não ter medo de recomeçar. Amanhã é sempre outro dia" (pág.103).
Uma cativante  aventura pelos caminhos da Filosofia, Literatura e Psicologia, evidenciando um imenso conhecimento literário, cultural e histórico, numa linguagem rigorosa e atrativa, que nos prende e suspende às suas páginas, na ânsia da compreensão do desenlace final. São exemplo: o conhecimento da Tavira árabe, o Porto ou a Lisboa de hoje e de ontem; a psicanálise de Freud e a filosofia de Kierkegaard e o seu " Diário do Sedutor " (págs  136, 137, 303 e 304), na interpretação da sexualidade patológica do Don Juanismo (masculino e feminino) e a sua essência teatral e manipuladora, do " não-ser e o não-estar em parte alguma, a não ser em trânsito ", para dominar e violentar o outro: " pássaro e cobra " da sedução, dada a sua incapacidade de amar outrem, a não ser a si próprio, na compulsividade inconsciente de se afastar (reprimir) do objecto do seu desejo: alguém do mesmo sexo, que quer, afinal (pág 234 e 235). Porque, na impossibilidade de " curar " um psicopata do amor "serial lover", o " amar é separar-se, quando do convívio só resulta dor " (pág 302).
Emerge este belo e cativante romance de Teresa Martins Marques, pelos mares bravios da realidade existencial que impiedosa  e cruel, nas diferentes faces de violência e exploração do ser humano, contrasta com os percursos laterais das ondas suaves de amor,  tolerância, solidariedade e liberdade, nunca desistindo de construir um mundo melhor pela dignificação da  vida das pessoas,  numa corajosa ética profissional, missão tão simples e dura de muitos (as) e tendo como lema de vida o de Manuela, numa frase de Eduardo Lourenço: " Não emprestarei os meus joelhos aos ídolos sentados no lugar impossível de Deus".
Parabéns e muito obrigada, Teresa Martins Marques, foste tu a Corajosa e Grande  " Mulher que venceu Don Juan ".
Bragança, 3 de agosto de 2014

Mª Idalina Alves de Brito

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1 comentário:

  1. Ana Diogo:
    Excelente este texto de Mª Idalina Alves de Brito que voltei a ler, agora com mais tempo. Parabéns, Teresa Martins Marques, por merecer por inteiro esta recensão tão elogiosa quanto bem fundamentada!

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