09/10/2014

Diálogo de Maria van der Bent com a Autora

Diálogo da Autora com Maria van der Bent, em 18 de Maio de 2013
(após a publicação do último episódio do romance na forma folhetim)

Maria van der Bent: Teresa, Um último episódio muito doce ("onde repetiram muitas vezes o que aprenderam um com o outro..." - que bonito!) e nostálgico, culminando na carta, com o jantar do Guincho em jeito de "comic relief". No final, deu-me uma tristeza, que nem imagina! São muitos meses deste encontro semanal...Exactamente na semana passada disse-me que gostaria de saber o que eu achava sobre o destino que tinha arranjado para o Manaças e qual a apreciação geral. Quanto ao Manaças, o "castigo" (está entre aspas, porque, em si, não é uma coisa má um homem apaixonar-se por outro) de que me lembrei logo no início foi realmente este, pois que maior ironia do destino para um machista engatatão do que apaixonar-se a sério e ainda por cima por um homem? Relativamente à apreciação, não sei escrever aquelas coisas como faz o Ernesto, por isso digo apenas que gostei muito das "mensagens", ou seja gostei e identifico-me com a água que a Teresa pretendeu - e conseguiu magnificamente - levar ao seu moinho. Gostava ainda de salientar o quanto apreciei toda a informação que conseguiu incluir na história, por ex., sobre Tavira, Moncorvo, Lisboa, o teatro da prisão, o padre da música, etc., etc., assim como todos os detalhes minuciosos, como nomes de ruas - por acaso, embora não seja do Porto, sabia a fama da Santos Pousada:) - nomes de lojas, descrições de edifícios, enfim, a Teresa sabe tanto de tanta coisa! Por tudo, muito obrigada e o maior sucesso para o livro. Com mil beijinhos.
18/5 às 18:02

Teresa Martins Marques:  Querida Maria van der Bent Nem sei por onde começar a agradecer-lhe! É claro que desde o princípio percebi que percebeu a minha ideia final para o Manaças. E agradeço-lhe ter-mo feito saber sem desvendar a história. Quanto à tristeza, eu também a senti. Chama-se síndrome do ninho vazio (como bem lembrou a Margarida Cascarejo que também é sibila....) Posso mesmo dizer que escrevi o final em lágrimas. Quem é que disse que a emoção não faz parte do texto? Eu não! Vamos fazer os "episódios finais" na Faculdade e no lançamento do livro. O meu editor vai ser sensível aos vossos comentários, tenho a certeza! O Ernesto Sábato disse que "as ficções salvam os que as escrevem e os que as lêem." Por evidente processo de identificação. Por isso procurei elementos para que um maior número de leitores se pudessem identificar com a história. Meter nela os leitores e outras pessoas que eu conheço foi uma dessas formas de identificação. Quando as leitoras do folhetim do século XIX choravam com as heroínas era apenas porque a vida delas poderia ser a sua. Esta história é a que foi ou poderia ter sido passada com pessoas que eu conheço, a começar por mim. Daí que tente cumprir aquele princípio da autenticidade que os presencistas defendiam e Régio em particular e que ficou escrito no nº 1 da revista Presença- o conceito de literatura viva. Agora vou seleccionar extractos dos vossos comentários, e será mais uma forma de os leitores participarem no Colóquio do dia 16/ 17 de Julho. É claro que gostaria imenso de os ver lá pessoalmente! Um grande beijo.
18/5 às 18:24

Maria van der Bent: Teresa, Compreendo perfeitamente as suas lágrimas. Como sabe, eu identifiquei-me muito com vários dos seus pontos de vista, como, por ex., o facto de que a tão louvada incondicionalidade do amor (conjugal/parental), em certas circunstâncias, não é mais do que puro masoquismo, a desmitificação de certas figuras do jet-set, aparentemente muito "finas", que pululam pelas capas de um certo tipo de revistas, mas que no fundo são ocas e hipócritas (as falsas amigas da Sara, no enterro do Amaro), quando não mesmo completamente depravadas (o dito). A estas a Teresa contrapôs várias pessoas simples, mas de bons sentimentos, aliás, acho que uma das ideias importantes da história é este reconhecimento do valor de pessoas como as companheiras de Sara ou o Joaquim, por exemplo, versus os tais falsos ídolos que de fineza afinal não têm nada. Ainda muito importante é o seu plaidoyer por uma educação sólida, mesmo tardia como no caso da Sara, mais uma vez versus a ignorância e futilidade de uma certa classe dita alta que é de uma enorme pobreza intelectual. Não sei o que é que os alunos do 12º ano lêem actualmente, mas acho que este seu livro, tão rico de ideias e de informação, poderia ser um óptimo ponto de partida para várias discussões nas aulas. Quem sabe, não virá a acontecer?

AUTO-APRESENTAÇÃO DE MARIA VAN DER BENT
Nasci em Lisboa na Associação dos Empregados do Comércio, no Largo do Caldas, perto de onde é hoje a sede do CDS.
Cresci até à 4ª classe na zona da Casa da Comédia/Janelas Verdes.
Devido a mudança de casa, fiz o liceu todo no antigo Liceu Nacional de Oeiras do qual tenho as melhores recordações, tanto ao nível de colegas, com alguns dos quais ainda mantenho contacto estreito, como de professores, com realce para o professor de História da Literatura Portuguesa do 6º e 7º anos, Manuel Tavares (o Zé Jorge Letria foi meu colega de turma e sei que ele tem também. um carinho muito especial por este professor, infelizmente já falecido há bastantes anos).
Em 1968/69 entrei para a Faculdade de Direito, mas não gostei e sempre que podia ia assistir às aulas de uma amiga do liceu, na Faculdade de Letras.
Pensei mudar de curso, mas os meus pais acharam que era uma pena e acabei por continuar até ao 3º ano (fui colega de turma do mesmo Zé Jorge, do Miguel Sousa Tavares, da Teresa Beleza, do Pedro Saraiva - filho do Prof. José Hermano Saraiva.
Nas férias de 1972 fui à Holanda, onde vivia um familiar, e resolvi lá ficar.Casei em 1973 e só voltei  a Portugal em 1974.
Em 11 de Setembro de 1976 tive um filho, nascido em Lisboa, a quem chamei Viktor, em homenagem ao cantor chileno Victor Jara, assassinado em 1973, na altura do golpe. 
 Em 1978 voltei para a Holanda e passei os anos 80 parte lá, parte cá, com várias idas e vindas. Até aos anos 90, sempre que estive em Portugal vivi na zona de Cascais/Estoril. 
 Nos anos 90 voltei praticamente a viver em Portugal a tempo inteiro, perto de Palmela.
Nessa altura, inscrevi-me, finalmente, na Faculdade de Letras, no curso de Línguas e Literaturas Modernas, vertente inglês/alemão.
Mais do que o curso em si , naquele momento, interessava-me aproveitar o facto  do curso ter como disciplina de opção - dois anos de língua neerlandesa, pois queria ter uma prova rápida dos meus conhecimentos de holandês, para trabalhar como tradutora . Fiz muitas, quase todas de tipo legal, como as directivas comunitárias que começavam a chegar de Bruxelas e documentos vários para advogados.
Assim que fiz essas cadeiras de neerlandês, por razões de tempo e logísticas, passei para a Universidade Aberta e foi na ESE de Setúbal que acabei por fazer os exames do resto das cadeiras do curso.
Seguidamente, trabalhei dois anos como professora de inglês na Escola da Quinta do Conde, 8º e 9º e 3º, 4º e 5º nocturno. 
 Em 2000 mudei-me para a Foz do Arelho e em 2011 para o Algarve.

Em 2005 comecei a trabalhar como tradutora e redactora para uma editora que publica material de apoio para contabilistas e gerentes de pequenas e médias empresas, nomeadamente uma revista quinzenal e livros técnicos sobre legislação vária. É isso que ainda continuo a fazer.

1 comentário:

  1. Como se nota, gostei muito de conversar com a Teresa, quando da publicação do folhetim no facebook. Não é todos os dias que se tem oportunidade de dialogar com o autor de um livro/texto de que gostamos, especialmente durante a criação do mesmo. Obrigada pela disponibilidade e...espero(amos) pelo próximo.

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