14/04/2014

A DAMA DO MAJESTIC

Apresentação do livro  no Café MAJESTIC.
Na imagem, Teresa Martins Marques e Júlio Machado Vaz
– Porquê a sexta?
– A condizer com a classificação do Majestic.
– Sim?
– É o sexto mais belo café do mundo.
– Depois de…
– Depois do New York em Budapeste, Florian di Venezia,  Wien Café Central
– Et du Café de la Paix,  à Paris − rematou a dama, com um belo accent parisien, a duplicar um sorriso trocista.
– Ah, desculpe, afinal estava informada…
– Mais ou menos, acrescentou discretamente.
– O Top 10  da Ucityguides, vale o que vale.
– Na verdade. É discutível que coloquem o Majestic, com todo o respeito pelos portuenses, à frente da Pastelaria Colombo  no Rio.
– Acha? − pergunta, patrioticamente, o cidadão de Avintes.
–  É uma simples opinião. Não é matéria de fé, riu a senhora.
– De fé, não é de certeza, porque o Vaticano  ainda não decide os rankings de cafés…
– Também acho muito discutível que se coloque o Gambrinus de Nápoles, à frente do Tortoni de Buenos Aires.
– Lá nisso estou de acordo consigo. Bastaria estar lá o Borges para aumentar a pontuação.
Arriscou a referência para avaliar o ranking da dama em matéria literária. Ela percebeu-o e disse-lhe:
– O Tortoni de boa memória. Não tão boa como a de Funès, é claro…
Agora é que o Manaças ficou mesmo enrascado, não estava a ver nenhuma ligação entre o popular actor francês  e o  Jorge Luis Borges, mas não se desconcertou.
– Pois, o  Louis de Funès, mas ele rodou lá alguma coisa?
Não esperou pela resposta e continuou a debitar:
– Vi-o no Musée Grévin, há tempos…
– No Grévin? –diz ela a rir da confusão dele.
– Sim no museu da cera, está de gendarme mal-humorado.
–  Bem, deixe lá , não era esse  Funès,  era outro.
– Ah!
 O Manaças  não tinha  lido Funes el Memorioso, o conto de Jorge Luis Borges,  escrito em 1942, incluído  em Ficciones. Acontece aos melhores, quanto mais aos piores. O Manaças  começava a ficar deveras intrigado. Quem seria a dama? Viajada ela era, para conhecer tanto café por esse mundo.  Mas adiante, o que importa é que caia algum, pelo menos que pague esta conta, ia futurando  o Manaças. Não havia meio de desandar, pensava a dama que ia bebericando o seu chazinho. Continuando a desejar impressioná-la, o Manaças mudou a conversa para outras ficções  menos literárias, mas mais rendosas:
– O biógrafo da  J. K. Rowling  o Sean Smith, refere que ela passava muito tempo aqui no Majestic a trabalhar no primeiro Harry Potter.
–  Disso  não sei nada. Mas  sei que há outros  mais ilustres que passaram por cá:  o   Régio, o Pascoaes, o Leonardo Coimbra, o Manoel de Oliveira, o Júlio Resende.
– Ah, mas é claro que sim − emendou o Manaças − ao ver que baixara demasisado a fasquia ao falar de Harry Potter.
A senhora continuou a enumeração: Os quatro vintes…
– Quatro vintes?
– O José Rodrigues, o Armando Alves, o Ângelo de Sousa e o Jorge Pinheiro, todos classificados com vinte valores nas Belas-Artes.
– Claro, claro, e  até mesmo o Gago Coutinho, sempre acompanhado de belas mulheres…
Manaças acompanhou a frase de um sorrisinho especial.
– Acredito que sim. O livro de visitas mostra bem a qualidade dos visitantes.
– Viu quem é a primeira pessoa que aparece na internet?
– Vi, sim senhor. Era um grande amigo meu.
– Ah conheceu-o − disse o Manaças entusiasmado − com uma arrière- pensée.
– Conheci-o a  ele e à mulher dele, a Pilar  de quem  sou  amiga.
O primeiro nome a figurar no livro de visitas da internet era o de David Mourão-Ferreira, que  escrevera, em 9 de Janeiro de 1986:

Nunca venho ao Porto sem dar ao menos um salto a este belo café Majestic, que não hesito em considerar como um dos que em toda a Europa melhor conservam a atmosfera dos começos do século e que, por isso mesmo, bem importa conservar, preservar, respeitar.
In: A Mulher que venceu Don Juan

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