13/04/2014

A Mulher que Venceu Don Juan, na Fnac

Foto: Que me perdoem as raparigas que acham que o feminismo já não serve para nada. Aquelas que, cultas, sofisticadas e independentes, consideram que é um sinal de inferioridade lutar pelas mulheres indefesas e vítimas de uma sociedade ainda machista e cruel para com as mulheres, não apenas no nosso país, como em todo o mundo. Aquelas que se recusam a comemorar o Dia da Mulher por considerar um sinal de inferioridade do género (talvez não saibam qual o acontecimento trágico que deu origem a essa comemoração). Nós, as auto-confiantes, as independentes, as que tivemos a sorte de ter um futuro, pelas mais variadas razões (boas famílias, acesso a estudos superiores e a bons empregos, etc.) devemos ser conscientes das que não gozaram das facilidades que tivemos e que são vítimas diárias (basta ver, só no nosso país, a estatística brutal de mulheres vítimas de violência doméstica e assassinadas pelos companheiros e ex-companheiros). É por isso que agradeço a Teresa Martins Marques o seu belíssimo livro que, além de um romance muito bem escrito sobre o tema do Don Juanismo, combinando uma erudição fabulosa e que cruza conhecimentos de várias áreas, numa linguagem escorreita e despretensiosa, é um hino de homenagem a essas mulheres corajosas que souberam fintar o seu destino, uma homenagem também ao trabalho inexcedível da APAV, cujo aparecimento tem contribuído para uma viragem na vida de muitas mulheres. Obrigada, Teresa! Corajosa, sempre."A Mulher que Venceu Don Juan" inclui no entrecho ficcional três personagens de fundo donjuanesco. Amaro Fróis, cirurgião plástico, procura nas mulheres a vingança de um passado tenebroso; Manaças, serial lover, recalca uma pulsão proibida; Joana colecciona os namorados das amigas. Os três serão vencidos: o primeiro por uma mulher que subestimou; o segundo pelo verdadeiro objecto do desejo recalcado; a terceira por uma presidiária, cujo companheiro seduziu.A protagonista, Sara Dornelas, escapa à morte e encontra o amor, realizando, pelo estudo, um sonho antigo. Dois seres de eleição, a psicóloga Lúcia e Paulo, comissário da polícia, assumem um papel decisivo no desmantelamento de uma rede tentacular e no castigo dos criminosos, unidos por ignorados laços de sangue.Travejada por diálogos vivos, ora dramáticos ora humorísticos, a acção decorre em múltiplos lugares, potenciando o efeito de real pela intrusão de figuras verídicas que interagem com as personagens ficcionais.Entretanto, Manuela, jovem doutoranda, prima de Doña Juana, prepara em Copenhaga, e defende com sucesso, uma tese sobre o Diário do Sedutor, de Kierkegaard, duplicando, no plano teórico, os meandros do desejo, no plano da acção, e gerando uma atmosfera de suspense até ao último fio da intriga romanesca.

Sem comentários:

Enviar um comentário