24/07/2014

A recensão de Eugénio Lisboa

 A recensão de Eugénio Lisboa, sábia e bem-disposta, faz justiça a romance cuja matriz folhetinesca ‒ na veiculação semanal ‒ encantou leitores, a maioria dos quais repetiu a experiência em livro, entretanto revisto e acrescentado. Conformes no «protocolo do ‘roman-feuilleton’», cujos cultores e títulos maiores são enunciados, parece-me haver uma retracção do crítico na parte final, ao afirmar que «não é folhetim quimicamente puro», por duas razões principais: o passeio de Sara pela Lisboa do Guia de Portugal e o trabalho de tese em curso de Manuela. Quanto ao passeio, e com mais informação (datas, etc.), bastaria olhar ao grande folhetim camiliano A Queda Dum Anjo, em que Calisto Elói se mune de primeiras edições seiscentistas para visitar as fontes e outros lugares da capital, sendo que, na falta de transportes e vias de comunicação, ao tempo, o folhetim era o repositório mais completo de quem não saía da sua terra. Viajava-se pela imaginação, ciceronerando os leitores por universos nem sempre verosímeis. Quanto à presença de Manuela, e suas preocupações, estas são a do leitor que se interroga sobre os tipos, causas e efeitos do donjuanismo, transportando para o diálogo com figura central, Lúcia, a explicação mais concorde, e, do mesmo passo, iluminando a acção. Ainda aqui, antes do romance-ensaio (que este também é) no século XX, a ficção oitocentista levantou, junto do grande público, questões de moral que só poucos filósofos discutiam.

Ernesto Rodrigues

Ernesto Rodrigues (1956) é professor na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa e presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes. Antigo jornalista e leitor de Português na Universidade de Budapeste entre 1981 e 1986, publicou 20 obras de poesia e ficção, desde 1973 até à mais recente, A Casa de Bragança, em 2013.
Prefaciou 21 autores portugueses e traduziu mais de 20 obras húngaras, incluindo o Prémio Nobel Imre Kertész, os escritores Sándor Márai, Deszo Kosztolányi e Magda Szabó e ainda uma Antologia da Poesia Húngara, em 2002. Reuniu oito volumes de ensaios, merecendo particular menção Mágico Folhetim: Literatura e Jornalismo em Portugal (1998) e Cultura Literária Oitocentista (1999).
O seu currículo pode ser consultado em www.ernestorodrigues.blogspot.com 
Entrevistas:
2008. Padre António Vieira, Sermões, Cartas, Obras Várias. Selecção e Prefácio de Ernesto Rodrigues. Lisboa, Tupam Editores, 2008. Entrevista de Ana Marques Gastão em Diário de Notícias (Lisboa), 17-3-2008.
2010. 5 de Outubro. Uma Reconstituição. Lisboa, Gradiva, 2005. Entrevistas: À volta dos Livros, Antena 1, 17-2-2010; JL – Jornal de Letras, Artes e Ideias, n.º 1030, 24-3-2010, p. 43; Carlos Pinto Coelho entrevista Ernesto Rodrigues [ver: ernestorodrigues.blogspot.pt].
2011. O Romance do Gramático. Lisboa, Gradiva, 2011. Entrevista de Ana Aranha na RDP, Antena 2, Páginas de Português, 12-2-2012.
2011. António José Saraiva e Luísa Dacosta: Correspondência. Edição de Ernesto Rodrigues. Lisboa, Gradiva, 2011. Entrevista na RTP2, Diário Câmara Clara, 23-1-2012.
2012. Bragança, 550 anos. Entrevista de José do Carmo Francisco, Ler, Livros & Leitores, julho-agosto de 2012, p. 65.
Ler este texto:

Sem comentários:

Enviar um comentário